Carl Jung considerava que as bruxas eram uma projeção da “anima” (alma) masculina como um aspecto feminino primitivo que subsistia no inconsciente do homem. Para ele, as mulheres tinham mais ligações com as forças obscuras e os espíritos e eram capazes de transformá-los em pulsões ou ainda manifestar mais facilmente conteúdos irracionais da psiquê.

Carl Jung considerava a bruxaria como um símbolo de energias criativas instintivas, não disciplinadas e não domesticadas que poderiam ser canalizadas de encontro ao interesse do eu, da família ou do clan.

Le Sabbat des sorcières, Francisco de Goya, 1797–1798, Musée Lázaro Galdiano, Madrid

Na astrologia, costuma-se olhar para as casas 8 e 12 como locais no mapa que determinam uma conexão com o invisível e com vidas passadas. Olha-se também para a Lua e Lilith como fortes figuras femininas encharcadas de conhecimentos ancestrais. Nas tradições cabalísticas, Lilith é conhecida como Lua Negra, justamente por existir nas sombras do inconsciente, motivada por pulsões obscuras.

Já no Tarot, a figura da Sacerdotisa traz o arquétipo do desconhecido e do mistério. É uma mulher mística, misteriosa e conectada com a lua. Está sentada entre duas colunas, uma clara e outra escura, representando nossa luz e sombra. Em um jogo, pode ser um convite a acreditar em nossa intuição, em nosso sexto sentido ou ainda de guardar algo em segredo.

Trois sorcières sur un bûcher au XVe siècle. Gravure du XIX tirée d’une collection privée. ©️ AFP / Leemage

Bruxas, feiticeiras, fadas, mágicas ou criaturas do inconsciente são todas filhas de uma longa história, registrada na psiquê e nas transferências de conhecimento através dos séculos, tendo sido transformadas, ao longo dos anos, em personagens hostis. Jung dizia que as bruxas eram a antítese da imagem idealizada da mulher.

Hoje, bruxa é elogio.

Ref: Dicctionnaire des Symboles, Jean Chevalier et Alain Gheerbrant.
Imagem em destaque: Examen d’une sorcière pendant un procès, Thomkins H. Matteson, 1853, Peabody Essex Museum – Wikipedia.