Quem foi Pamela Colman Smith e por que é tão importante para tarólogos conhecerem sua história?
Talvez você não reconheça facilmente o nome Pamela Colman Smith muito menos saiba quem ela foi. Mas e se eu te disser que ela foi a ilustradora do baralho de tarô mais famoso e mais vendido no mundo? Surgiu alguma coisa na sua mente?

Pois é. Você provavelmente sabe que o baralho de tarô mais famoso e mais vendido no mundo é conhecido como “Rider-Waite”.
Ele inclusive existe em diversos idiomas ao redor do mundo inteiro e continua sendo o mais vendido de todos os tempos.
Mas o que poucas pessoas sabem é o nome da ilustradora por trás desta obra de arte (que inclusive deveria fazer parte de todos os baralhos que existem no mercado).
Então, hoje eu vou falar aqui um pouco sobre a história, a vida e a trajetória dessa mulher e como ela se tornou uma das heroínas mais desconhecidas do mundo do Tarô, com muita gente que atua como tarólogo nem mesmo sabendo o nome dela.
Quem foi Pixie?
Pamela Colman Smith nasceu em 16 de fevereiro de 1878 em Londres. Seu pai se chamava Charles Edward Smith e sua mãe Karen Coleman. Ela era filha única e a família não passou muito tempo no centro de Londres, tendo se mudado para Manchester, também na Inglaterra, onde Pamela passou seus primeiros anos de infância.
Em 1889, quando Pamela tinha apenas 10 anos de idade, toda a família foi transferida por seu pai para a Jamaica onde ele conseguiu um emprego na West India Improvement Company. Eles moraram por cinco anos na Jamaica e foi lá que Pamela se apaixonou pelo folclore e pela história do lugar. Ali, ela também começou a desenvolver suas habilidades artísticas. Quando ela completou 15 anos, Pamela decidiu se mudar sozinha para o Brooklyn, em NY pra se matricular no Pratt Institute, onde poderia estudar arte. É importante pensar que ela tinha apenas 15 anos, estava longe dos seus pais e sozinha nos Estados Unidos.
Pamela era muito apaixonada pelas artes desde cedo. E seus professores do Pratt Institute costumavam dizer que seu trabalho artístico era muito maduro pra sua idade. Ela tinha um olho muito bom para as artes e acabaria sendo bem sucedida no futuro, mas Pamela não se formou e nunca conquistou um diploma.
Em 1896, enquanto ela ainda estudava no Pratt Institute, ela soube que sua mãe havia falecido na Jamaica. Pamela não tinha apenas perdido sua mãe, mas ela também estava passando por alguns problemas de saúde e acabou deixando a escola de artes para trás.
Mesmo sem terminar seus estudos e sem ter um diploma, Pamela se tornou uma ilustradora e usou tudo o que aprendeu até aquele momento para se desenvolver na profissão. Ela começou a ilustrar para autores da região, e é desta época que tem seus trabalhos mais reconhecidos. Entre eles, destacam-se os versos ilustrados de William Butler Yeats para quem ela não apenas atuava como ilustradora, mas também como corretora de seus livros.
Durante esse tempo, Pamela definitivamente estava vivendo seu melhor momento. Ela parecia querer fazer tudo o que amava e compartilhar todo seu potencial criativo.
Mesmo sendo apaixonada por ilustrações, ela chegou também a escrever e ilustrar seus próprios livros. Tudo parecia estar indo muito bem quando em 1899, ela recebeu mais uma má notícia. Pamela tinha apenas 21 anos, quando seu pai também faleceu.
Órfã de pai e mãe, vivendo em Nova York sem família ao seu redor, Pamela decidiu deixar tudo para trás e voltar para a Inglaterra. Ainda assim, ela não desistiu de ilustrar, mergulhando mais fundo em sua carreira como artista, ilustrando cada vez mais livros e escrevendo seus próprios trabalhos.
Mas havia algo mais que Pamela queria fazer…
E foi assim que ela começou a trabalhar como cenógrafa e designer de teatro. Isso acabou chamando a atenção do grupo Lyceum Theatre, que fazia turnês por todo o país. Eles convidaram Pamela não apenas para ser cenógrafa e ilustradora, mas também figurinista, adicionando ainda mais habilidades em seu currículo. Pamela acompanhou o grupo por alguns anos, até que finalmente decidiu que queria se estabelecer novamente em Londres.
Então, em 1901, ela montou seu próprio estúdio, onde abriu portas para artistas, ilustradores, autores e qualquer outro artista local. Não se sabe muita coisa sobre este estúdio, mas há informações esparsas de que vários artistas a consideravam fantástica no que fazia e que ela era uma grande personalidade na comunidade artística de Londres. Mais uma vez, ela voltou a escrever e ilustrar livros com base em tudo o que aprendeu na Jamaica, relacionando folclore e tradições. É nesta época que surgem livros que incluem o que é conhecido como histórias folclóricas Annancy e Chim-Chim.

Nesta época, Pamela começou também a apoiar o movimento sufragista, incentivando que o voto de mulheres fosse legalizado. Até que a Primeira Guerra Mundial chegou. Ela continuou usando seus talentos não apenas para criar pôsters como também ilustrando brinquedos infantis para apoiar a guerra.
Pamela e a Golden Dawan
Pouco tempo depois, Pamela foi apresentada à Ordem Hermética da Golden Dawn, onde entrou em 1901. Foi lá que ela conheceu Arthur Edward Waite. Quando a Golden Dawn finalmente se fragmentou devido a questões internas, Pamela junto com outras pessoas que participavam da Ordem, partiram para um movimento independente chamado Light of the Golden Dawn (Luz da Golden Dawn) também conhecido como Holy Order of the Golden Dawn (Ordem Sagrada da Aurora Dourada).
Em 1903, ela criou sua própria revista, a Green Sheaf. A revista, no entanto, não sobreviveu por muito tempo, tendo tido apenas 13 edições.

A partir de 1907, a arte de Pamela foi sendo cada vez mais notada em todo o mundo e ela foi convidada a fazer sua própria exposição em Nova York. A mostra foi tão bem sucedida que ela recebeu uma impressão de platina de 22 de suas pinturas e um convite para mais duas exposições, sendo uma delas realizada em 1908.
Em 1909, Waite contratou Pamela para criar obras de arte para um baralho de tarô. Cada carta foi pintada à mão e as impressões resultantes foram então vendidas como um baralho de tarô junto com um livro escrito por Waite “The Key to the Tarot” (a chave para o Tarot) por uma editora chamada William Rider and Son. E foi justamente daí que o nome Rider-Waite-Smith tarot surgiu: Rider sendo o editor, Waite sendo o autor e Smith a ilustradora. Mas no momento em que ele foi publicado, foi chamado apenas de Cartas de Tarot.
Alguns anos depois, versões em preto e branco dos trabalhos originais de Pamela foram adicionados ao livro e o livro foi republicado como Pictorial Key to the tarot (Chave pictórica para o Tarot).
Em 1911, Pamela converteu-se ao catolicismo e, após o fim da Primeira Guerra Mundial, ela recebeu uma herança de seu tio, o que lhe permitiu comprar uma casa de campo em Cornwall, onde passou o resto de sua vida longe do centro de Londres.
Os últimos anos de Pamela
Infelizmente, não se sabe muito sobre Pamela entre 1911 até sua morte. Acredita-se que ela tenha escrito e ilustrado outros livros, mas ela nunca recebeu a mesma fama ou atenção que teve em seus primeiros anos.

Pamela nunca se casou e passou os últimos 40 anos de sua vida com sua companheira a Sra. Norris Lake até vir a falecer em Cornwall aparentemente sem um tostão em 18 de setembro de 1951, aos 73 anos.
Não se sabe muito sobre esses últimos anos, mas o que sabemos é que todos os seus pertences pessoais e sua casa foram vendidos para saldar dívidas que ela acumulou nos últimos anos de sua vida. Mas a história não termina aí, apesar de Pamela não estar mais viva. Em 1971 a US Games comprou os direitos de publicação do baralho e do livro. Eles mudaram o nome do baralho devido às leis de direitos autorais na Inglaterra para o Rider Tarot Deck, que mais tarde se tornou apenas Rider Tarot e por último Rider Waite tarot.
Eles tiraram o nome de Smith do baralho quase inteiramente e por um longo período de tempo a associação de Smith com o baralho e sua arte foi quase esquecida. Infelizmente, como Pamela havia morrido alguns anos antes, não havia como ela discordar dessa mudança de nome.
Mas ainda há tempo para mudar isso. Este deck foi tão importante para tantas pessoas que o nome de Pamela Smith tem sido ainda mais falado e ela tem se tornado mais conhecida do que quando era viva. Isso se dá graças a amantes de tarot e profissionais que fazem questão de reconhecer sua participação na criação do mais famoso deck de tarot do mundo.
Cabe a nós, que sabemos de toda a história, chamá-lo de Rider-Waite-Smith ou ainda Waite-Smith, deixando de lado o nome da editora.
Vale lembrar também que a arte de Pamela inspirou e ainda inspira inúmeros outros decks ao redor do mundo como temas os mais variados.
E embora Pamela não tenha visto sua importância para a história do Tarot muito menos o impacto de sua arte na vida de inúmeras pessoas, é nossa responsabilidade apreciar e reconhecer a sua associação com um das mais famosas peças da história de tarot.
Eu mesma uso esse baralho em todos os meus atendimentos e também em minhas aulas pois considero o baralho ideal para se iniciar na arte do tarot. E sabendo da história da Pamela, faço questão de reconhecer seu nome, sempre que falo sobre o Rider-Waite-Smith deck.
Eu espero ter passado um pouco da história da Pamela Smith pra você. Se você curtiu esse conteúdo e quer aprender mais sobre Tarot, te convido a conhecer meus cursos aqui.