Antes de entrar especificamente neste assunto, é importante entendermos a origem e a história por trás do tema “bruxaria”, que é até hoje retratada de forma extremamente equivocada justamente pela ausência de conhecimento histórico sobre o tema.

A perseguição de bruxas ocorreu principalmente na Europa entre os séculos XVI e XVII, mas também em outras regiões do mundo. Durante esses séculos, centenas de milhares de pessoas foram acusadas de praticar bruxaria e condenadas à morte. As acusações geralmente incluíam práticas de adivinhação, pactos com o diabo, e feitiçaria. As pessoas acusadas eram geralmente mulheres, mas também incluíam homens e crianças.

A caça às bruxas foi promovida e liderada principalmente por instituições religiosas e políticas, como a Igreja Católica e os tribunais seculares. As acusações eram frequentemente baseadas em delações, tortura e confissões obtidas sob coerção. As condenações resultaram em execuções, prisão e desterro.

A Igreja Católica e outras instituições religiosas viam a bruxaria como uma negação da fé cristã e um sinal de pacto com o diabo. Além disso, as autoridades políticas e econômicas usavam as acusações de bruxaria como justificativa para expropriação de bens e terras, aumentando sua própria riqueza e poder.

A maioria das acusações de bruxaria eram falsas e as acusadas eram inocentes. Por conta disso, a caça às bruxas é vista hoje como um evento trágico da história, marcado pela intolerância, superstição e opressão, algo que continua acontecendo até hoje em um outro formato.

O que foi a Inquisição?

A Inquisição foi um sistema de julgamentos e punições instituído pela Igreja Católica para perseguir e eliminar hereges, apostatas e outros indivíduos considerados ameaças à fé cristã.

Iniciada no século XII, a Inquisição atingiu o auge de sua atividade entre os séculos XIV e XV, e continuou em operação em algumas regiões até o século XVIII.

The triall of witch-craft, shewing the true and right methode of the discouery: with a confutation of erroneous wayes / By Iohn Cotta, doctor in physicke. Cotta, John, 1575?-1650?

Durante esse período, milhares de pessoas foram condenadas à morte ou à prisão por supostamente negar a doutrina cristã ou praticar outras formas de apostasia.

A Inquisição também foi usada para perseguir judeus, muçulmanos e outros não-cristãos, bem como para reprimir outras formas de dissidência religiosa e política.

O Calibã e a Bruxa

Diversos autores escreveram e ainda escrevem sobre esta época histórica e há muitos outros que contextualizam o que poderia ser chamado hoje de “caça às bruxas contemporâneas”.

“O Calibã e a Bruxa” é um livro de história e teoria social escrito por Silvia Federici que faz uma análise do papel da opressão e da exploração das mulheres na história da Europa e da América.

Silvia Federici

Federici argumenta que a opressão das mulheres é um fenômeno histórico e que se relaciona com a história da acumulação originária do capital e da expropriação dos camponeses. Ela também argumenta que essa opressão tem sido alimentada pelos sistemas de religião, política e economia.

O livro também discute a repressão da bruxaria e como isso foi usado como meio para controlar as mulheres e oprimi-las.

Federici afirma que a perseguição a bruxas foi uma forma de opressão de gênero, onde as mulheres foram as principais vítimas.

Ela argumenta que as acusações de bruxaria foram usadas como justificativa para a expropriação de bens e terras das mulheres, assim como para seu aprisionamento e execução.

Há alguma relação entre o Tarot e a Bruxaria?

A relação entre bruxaria e tarot é complexa e envolve vários aspectos históricos e culturais.

O tarot é uma ferramenta de autoconhecimento que se originou na Itália entre os séculos XIV e XV.

Durante os séculos XVI e XVII, a bruxaria e a adivinhação foram consideradas como práticas semelhantes e poderiam ser acusadas juntas. Por essa razão, muitas pessoas que praticavam o tarot como arte de adivinhação foram acusadas de bruxaria e perseguidas.

Alguns historiadores acreditam que a caça às bruxas foi usada como meio para silenciar e perseguir aqueles com habilidades espirituais e conhecimentos esotéricos.

As cartas de Tarot são estudadas por milhares de pesquisadores no mundo inteiro desde sua origem. Elas são consideradas como uma forma de autoconhecimento e arte – sendo expostas nos museus mais importantes do mundo inteiro – e não têm nenhuma relação com bruxaria.

Como as artes retrataram a bruxaria no passado?

As artes, incluindo literatura, pintura e teatro, retrataram a bruxaria de várias maneiras ao longo da história.

Durante os séculos XVI e XVII, quando a perseguição às bruxas era mais intensa, as representações artísticas eram frequentemente negativas e estereotipadas, refletindo as crenças populares da época.

Na literatura, as bruxas eram frequentemente retratadas como mulheres idosas, mal-intencionadas e poderosas, que praticavam pactos com o diabo e causavam malefícios. Por exemplo, a obra “Malleus Maleficarum” (Martelo das Feiticeiras) escrita por Heinrich Kramer e Jacob Sprenger no século XV, é um dos exemplos mais conhecidos de literatura que contribuiu para a perseguição das bruxas na Europa.

Na pintura, as bruxas eram frequentemente retratadas como figuras grotescas e diabólicas, com características físicas estereotipadas como nariz adunco, boca torta e unhas compridas. Algumas das pinturas mais famosas do período incluem “A Feiticeira” de Hans Baldung Grien e “As bruxas de la Verna” de Domenico di Bartolo.

The Witch (Night Piece) Engraving 1626, Jan van de Velde. Image via Cleveland Museum of Art.

No teatro, as bruxas eram frequentemente retratadas como personagens coadjuvantes nas peças religiosas e morais da época, como a “Auto da Barca do Inferno” de Gil Vicente.

A partir do século XVIII, a representação da bruxaria nas artes começou a mudar e a ser menos estereotipada e mais subjetiva. A literatura, pintura e teatro começou a explorar a complexidade das acusações de bruxaria e as motivações das pessoas envolvidas.

Algumas obras retrataram a bruxaria de forma satírica e crítica, questionando as crenças populares e as perseguições históricas.

Na literatura, por exemplo, a bruxaria começou a ser retratada como uma metáfora para a opressão das mulheres e a intolerância religiosa. Algumas obras famosas incluem “As Memórias de Satanás” de John Wilmot, 2º Conde de Rochester (1674) e “La sorcière” (A Bruxa) de Jules Michelet (1862).

Na pintura, as representações de bruxaria começaram a ser menos grotescas e mais simbólicas. Alguns artistas começaram a usar a bruxaria como tema para explorar questões sociais e políticas, como a opressão das mulheres e a intolerância religiosa. Algumas obras famosas incluem “A Feiticeira” de Francisco Goya (1797-1798) e “A Bruxa” de Arnold Böcklin (1875).

No teatro, as peças começaram a retratar a bruxaria de forma menos estereotipada e mais crítica. Algumas peças famosas incluem “The Witch of Edmonton” (1621) de William Rowley, Thomas Dekker e John Ford e “Les sorcières de Salem” (As Bruxas de Salem) de Arthur Miller (1953).

Em geral, a partir do século XVIII, as artes retrataram a bruxaria de forma menos estereotipada e mais crítica, questionando as crenças populares e as perseguições históricas.

A witch. Oil painting. Wellcome Collection.

Quem são as bruxas contemporâneas?

As bruxas contemporâneas são indivíduos que praticam a Wicca, uma religião neopagã que se originou na Inglaterra no século XX e que se baseia na crença na existência de deuses e deusas, na veneração da natureza e na prática de rituais e cerimônias.

A Wicca se caracteriza pela sua ênfase na tolerância, no respeito mútuo e na liberdade de escolha. Algumas pessoas que se identificam como bruxas contemporâneas também praticam outras tradições neopagãs, como o paganismo celta ou o paganismo germânico.

Além disso, algumas pessoas que se identificam como bruxas contemporâneas não seguem nenhuma religião específica, mas simplesmente praticam a magia ou outras práticas espirituais como parte de sua vida pessoal.

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